Cinco anos, seu primeiro dia na escola, o lugar que mais freqüentará até seus dezessete. Serão doze anos naquele lugar para no fim um só objetivo ser alcançado: passar no vestibular. É isso que lhe ensinam e é isso que seus pais esperam de você, seus professores, seus amigos e seu cachorro esperam isso também. Enfiaram na sua cabeça que você tem que ir bem nessa prova, deve se esforçar ao máximo, estudar horas, dias, semanas a fio, não dormir direito nem comer, não pode ir a festas, namorar, se divertir. Ah, e o mais importante: em momento algum deixe de ter em mente que sua vida toda depende desse teste, é o momento crucial, o mais importante que você há de viver. Mas tudo isso vale a pena, você será recompensado, afinal, se tornará um bom profissional, um cidadão modelo, alguém “importante”. O plano que a sociedade desenhou para você é esse: estude muito, passe no vestibular, entre na faculdade, seja um “profissional de sucesso”, ganhe muito dinheiro, gaste mais dinheiro ainda, tenha uma família perfeita, se vista sempre com as últimas tendências, tenha todos os lançamentos eletrônicos e uma casa enorme com um carrão na garagem. Alguém se importa com o que VOCÊ quer? O que deseja fazer da vida? Quais são os seus sonhos? Qual é o seu sabor de pizza favorito? Não. Provavelmente você nem vai parar para pensar muito nisso. Afinal, para quê faze-lo se a sociedade já desenhou o seu estereótipo utópico? Lá está ele, prontinho, cuidadosamente planejado, perfeito, lindo, cheiroso, falso. No fundo, todos correm cegamente atrás do mesmo ideal. Mas jamais o alcançarão, pois ele não existe. Sim, é uma farsa, uma invenção. Aliás, você é apenas um grão de areia, ninguém dá muita bola pra você nem está preocupado com o seu bem estar. O autor disso tudo? Ninguém sabe, ninguém conhece, ninguém viu. É a mão oculta que move o mundo no compasso do mais selvagem capitalismo. E você é apenas mais um dançarino.
Ainda me lembro aos três anos de idade
O meu primeiro contato com as grades
O meu primeiro dia na escola
Como eu senti vontade de ir embora
Fazia tudo que eles quisessem
Acreditava em tudo que eles me dissessem
Me pediram pra ter paciência
Falhei
Gritaram: - Cresça e apareça!
Cresci e apareci e não vi nada
Aprendi o que era certo com a pessoa errada
Assistia o jornal da TV
E aprendi a roubar pra vencer
Nada era como eu imaginava
Nem as pessoas que eu tanto amava
Mas e daí, se é mesmo assim
Vou ver se tiro o melhor pra mim.
Me ajuda se eu quiser, me faz o que eu pedir
Não faz o que eu fizer
Mas não me deixe aqui
Ninguém me perguntou se eu estava pronto
E eu fiquei completamente tonto
Procurando descobrir a verdade
Nos meios das mentiras da cidade
Tentava ver o que existia de errado
Quantas crianças Deus já tinha matado.
Beberam o meu sangue e não me deixam viver
Têm o meu destino pronto e não me deixam escolher
Vêm falar de liberdade pra depois me prender
Pedem identidade pra depois me bater
Tiram todas as minhas armas
Como posso me defender?
Vocês venceram essa batalha
Quanto à guerra,
vamos ver.
(Grande Renato!)
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