terça-feira, 31 de maio de 2011

Não confie nos números

Tenho a impressão de que os números se acham muito importantes, bem mais do que lhes cabe. Simplesmente pensam que podem definir tudo e todos. A surpresa vem quando nos damos conta que somos nós mesmos quem lhes dá essa bola toda.
Ordenando sem restrição o que enxergam pela frente, os números dizem (ou pensam que dizem, ou pensamos que eles dizem) quem é bom, quem é ruim, quem é inteligente, quem é burro, quem é jovem, quem é velho, quem vence, quem perde, quem é gordo, quem é esbelto... Eles querem separar tudo.E ainda tem as estimativas e probabilidades dos jornais: "redução do número de assaltos em 40% no RJ desde o último mês", "o preço do barril de petróleo quadruplicará no próximo ano", "o mundo vai acabar!!!", "54% dos brasileiros são católicos", "todas as crianças do planeta sofrem bullying", "vai fazer um belo dia de sol hoje" - e então neva. E os números do governo (quem confia no governo?), censos, IBGE... Bandos de cordeirinhos a serem ordenados? Já vi muito disso lá em 1984 (e que bom que sempre há as ovelhas negras).
Eles querem te reduzir a apenas uma coisa: 1 (ou 9,5, se você for mais "inteligente" que o seu colega ao lado). Mas somos todos, todos, do mendigo ao garoto superstar, muito mais do que um símbolo. Os números não definem capacidades, somos nós mesmos muito mais capazes do que eles para fazer isso. Se você tira uma nota baixa numa prova ou é reprovado em alguma matéria, isso não é, de forma alguma, um indício direto de alguma debilidade intelectual sua. O peso que a balança mostra não define se você é bonito ou feio. O número de amigos que você tem não dizem se você é legal ou não. A quantidade de notas da sua carteira, de tênis importados guardados no armário, de vezes que você fez o vestibular até passar... Nada disso é muito mais do que... quase nada.
Considerando uma escala maior: Ter menos soldados mortos na guerra não faz um país ser melhor do que o outro, tampouco quantas multinacionais estão instaladas nele. O número de espécies em extinção (todas as espécies entrarão em extinção, um dia!), a quantidade de CO2 na atmosfera que o Al Gore nos contou, ou o volume da calotas polares derretidas, não representam, necessariamente, que o mundo vai acabar mais cedo. Também, o nosso maior número de redes neuronais não nos faz mais espertos ou evoluídos que qualquer outro animal que nos rodeia.
Mas, contudo, porém, há de se levar em conta que os números são importantes em várias aplicações, cuja maioria (e as únicas que consigo lembrar agora) está relacionada à ciência. Podem ser extremamente úteis e essenciais em quesitos técnicos, mas generalizações são um fracasso. Não se deixe alienar pelos números. Pense se é mesmo de todo verdade e se é confiável na aplicação prática, antes de absorver tudo aquilo que os números querem cultivar na sua cabeça. E por fim, repito: Eles não são tão importantes assim.