Mal do Século

Clara é uma garota normal. Adora High School Music, Jonas Brothers, Hanna Montana, e seus derivados. Tem a coleção inteira da Meg Cabot e do Crepúsculo, não perde um capítulo de Gossip Girl. Todas as garotas normais de sua idade fazem o mesmo. Comprar, escutar a música, assistir aos seriados, ler os livros, e tudo o que a indústria tem a oferecer. Quando converso com alguma delas, ouço: "vô escutá isso a vida toda!". Então me lembro da minha adorada mãe, que em seus tempos de juventude, era super fã dos Menudos, e agora ri disso. Até mesmo eu, rio do meu péssimo gosto musical infantil, não há menina brasileira que não tenha dançado Ragatanga e cantado Sandy e Júnior. O problema é que elas não são crianças. Seus neurônios foram consumidos pela indústria capitalista e não possuem mais senso crítico. Me pergunto, onde foram os jovens revolucionários, com um pingo de cultura, que faziam e aconteciam, sem precisar comprar uma opinião no camelô da esquina e ser aprovado pelo seu bando?

Antigamente, os jovens eram a voz do mundo. 1968 é o ano que não acabou, por causa dos jovens. Woodstock, Ditadura Militar, Diretas Já, entre outras manifestações, quem estava por trás de tudo? Os jovens. Estudantes se movimentaram, mostraram sua insatisfação com aquilo que ocorria a sua volta. Por que deveriam arcar com os erros de seus pais? Músicas foram feitas, periódicos publicados, panfletos distribuídos. Uma verdadeira revolução.

Não estou querendo dizer que devemos queimar os Jonas Brothers e o NXzero - afinal a inquisição já se foi, e a liberdade de expressão conquistada - e sair pelas ruas quebrando tudo. Apenas fico indignada que os jovens não produzam nada decente e criativo, deixam-se levar pela onda capitalista, não se interessem por nada além de suas vidinhas dentro de sua bolha chamada sociedade. É triste pensar que meus pais e avós lutaram por um mundo melhor e agora não são mais reconhecidos. Eles apenas conhecem os Beatles e o U2, porque são famosos, mas não sabem o que fizeram de verdade. Quem foram os Ramones, Clash, Jannis Jopling, Hendrix, Raul Seixas, Ultraje a Rigor, Legião Urbana, Cólera, Garotos Podres, Rita Lee e outras pessoas que foram censuradas ou exiladas, ou até que morreram de overdose, mas que sabiam o que queriam e não ligavam para a opinião do bando, não tinha preço defender um ideal. Olga Benário era muito jovem quando começou com seus ideais comunistas, fez de tudo para defende-lo, brigou com os pais e fugiu de casa. Che Guevara, que não queria as desigualdades que viu na América Latina, fez o que pode, hoje é apenas estampa de camiseta.

No campo da literatura, muito tempo antes, uma geração chamada de Mal do Século, onde Álvarez de Azevedo, com menos de 20 anos escrevia textos e poesias muito boas por sinal. Mas não creio que seja inteligente chamar os literários do século XIX de mal do século, talvez eles sejam denominados assim, pois eram meio inúteis. O que interessa é que deixaram alguma coisa de valor. Vale chamar de Mal do Século esses jovens sem cultura, sem opinião e também um tanto inúteis de hoje. Jovens que não deixarão nenhum legado, a não ser sua burrice.

P.S. Vale lembrar que existem excessões, jovens como eu e Supersonic Même, que assim como outros tantos, tentam se expressar de alguma forma, mas ainda assim, abafados pelo Mal do Século, e sua bolha chamada sociedade. Existem bandas, denominadas undergrouds, blogs anônimos, etc., que colocam o que querem para fora, expressam sua individualidade humana, sem parecer idiota ou burro. Esses anônimos são considerados pela bolha sociedade, anormais, apenas porque são diferentes.