O Natal, a Páscoa e os tantos outros feriados pseudo-religiosos são aqueles belos momentos nos quais repentinamente a nossa alma cristã vem à tona, a nossa bondade aflora de um lugar que nem sabíamos existir e os nossos momentos reflexivos então, nem se fala... O que deveria ser um período agradável, onde deveríamos refletir sobre as coisas da vida, partilhar sentimentos bons e celebrar o nascimento do nosso salvador (coff coff), se converteu num ótimo motivo para fazer a bela máquina capitalista funcionar à todo o vapor. Os ditos feriados reflexivos da Igreja Cristã tornaram-se comerciais ou, na melhor das hipóteses, apenas um dia sem escolas nem trabalho. Onde está o jejum e a reflexão na sexta-feira santa e na Páscoa? Ninguém sabe! Então, nos empanturramos com chocolate! Depois de ouvir tantos comentários ridículos e perguntas idiotas com críticas aos ateus que fazem feriados religiosos, me pergunto quem será o mais ignorante, afinal, aqueles que os fazem quase nunca sabem o motivo desses feriados! Além disso, nem temos a opção de ir à aula ou ao trabalho, pois, infelizmente, vivemos em uma sociedade pseudo-cristã e, diga-se de passagem, altamente capitalista. Por esses motivos continuamos celebrando essas datas e exaltando o nosso bom deus, o Capital.
Essencialmente, não há nada de errado em não cultivarmos o sentido religioso dessas datas, até me arrisco a dizer que isso é ótimo! Faz parte da evolução da sociedade, gradativamente, deixar de lado esses rituais, dogmas e misticismos, que são as bases das religiões cristãs, e se voltar ao concreto e verídico. Por isso é que exijo um Estado laico! Chega de feriados hipocritamente cristãos, é hora de assumir uma postura cética no âmbito governamental. Não estou defendendo nada relacionado à abolição ou proibição das atividades religiosas, mas defendo a livre opção quanto participar de uma religião num Estado que não imponha nenhum tipo de culto religioso sobre a população. Basta de “Deus seja louvado” nas cédulas de dinheiro e missas em festas municipais! Não precisamos de um presidente que coloque a segurança dos vôos nas mãos de Deus! Chega de aulas de ensino religioso e de padres benzendo obras públicas! E para finalizar, como não poderia deixar de ser, chega de feriados (hipoteticamente) religiosos! É claro que a sociedade deve usufruir de feriados para relaxar, levando em conta o caos e a correria que atingimos no século XXI. Mas comemorar o nascimento, a morte, a ressureição e tudo mais sobre a vida de um homem cuja existência nem mesmo pode ser comprovada, em datas inventadas e impostas pela Igreja, seria plausível apenas na era medieval! Hoje, isso configura algo insano, é hora de lutarmos para que uma postura laica seja efetivamente tomada pelo Estado. Vamos comemorar datas importantes para o país e toda sua população ou, até mesmo, nenhuma data em especial, subvertendo de vez o atual quadro de festividade hipócrita.
A separação da religião e do Estado é a única garantia de alguns direitos fundamentais, tais como as liberdades de opinião e de expressão. É uma importante salvaguarda da democracia e constitui, sem dúvida, um dos grandes avanços da humanidade, pois permite a convivência entre grupos distintos, respeitando sua diversidade. Percorrendo a História, é notável que uma evolução enorme já se deu em caminho à um Estado laico, inúmeras medidas importantes já foram tomadas, porém ainda há várias e sérias decorrências que comprometem a efetividade do mesmo. No papel, o nosso país é um Estado laico, como consta na Constituição da República Federativa do Brasil: “Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;” Bem, como eu disse, no papel... Por enquanto!
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