sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Tapa Buracos

Em consequência da nossa inesgotável curiosidade, muito frequentemente nos deparamos com questões cujas respostas não sabemos, ou seja, mistérios. Comumente, o ser humano não gosta disso. Ele não gosta de não saber, ele acha desconfortável ter dúvidas em aberto, e geralmente ele também tem preguiça de pensar muito a respeito. Dúvidas representam insegurança e instabilidade, mas o ser humano gosta mesmo é que lhe determinem o que é certo e que lhe digam o que fazer, simplesmente por que é tão mais fácil, não é? Uau, então inventaram a mágica! – ou Deus, se você preferir denominar dessa maneira. Não se sabe a origem do Universo? É claro que não! Questões tão complexas e profundas como essa merecem muitos (muuuitos) mais anos de estudo para serem respondidas. Mas a resposta existe, o que (ainda) não existem são aparatos e mecanismos para conseguir determiná-la e divulgá-la mundo afora. O ser humano, como já disse, não gosta muito de não saber, por isso na maioria das vezes prefere dizer que foi Deus que criou o Universo, num espaço - absurdo, ilógico e antinatural - de 7 dias. Não saber em detalhes o porquê de uma questão não requer atribuí-la a uma entidade divina. Muito antes pelo contrário, não saber deve refletir no esforço para descobrir – sem essa história de conformismo e preguiça de pensar. E nem são só os deuses que servem como tapa buracos, existem muitos outros mitos e superstições que fazem esse papel. Aqui se encaixa muito bem uma frase do Todo Poderoso e Louvável Douglas Adams: "Não é o bastante ver que um jardim é bonito sem ter que acreditar também que há fadas escondidas nele?"
 A cada hora acontecem muitas descobertas científicas ao redor do mundo, se encontram curas para doenças, passam a entender os mecanismos de ação de certa bactéria, inventam uma nova tecnologia eletrônica... Tudo isso não era sabido até o segundo da sua confirmação, mas tudo já existia, de alguma maneira – e não foi criação divina. Quem descobriu a penicilina foi uma pessoa, e não um Deus.  Até anos atrás não se sabia como funcionava o código genético, não se sabia por que o céu é azul, nem como as ondas transmitem cores e sons (se bem que isso nem eu sei muito bem). Tantas coisas já foram descobertas, tantas dúvidas já foram exauridas, mas tantas mais ainda estão escondidas. As possibilidades são infinitas, e as dúvidas sempre vão existir! O questionamento do desconhecido é uma fonte inesgotável, sempre haverá um passo a mais para ser dado.
É nosso dever como espécie humana ir atrás das respostas, para que no fim isso se reflita na nossa própria evolução e aprimoramento, no sucesso e na perpetuação de nossa existência terrena. Atribuir esses passos adiante a uma entidade mágica, apenas por que eles são difíceis demais para serem compreendidos é impor uma barreira ao conhecimento. É tentar impedir que tais sejam questionados e examinados pelo incessante e obsessivo olhar científico, é não querer que sejam desmistificadas – por que assim é mais fácil de controlar e restringir os pensamentos das pessoas, assim é mais fácil que elas aceitem o que lhes é imposto pelas autoridades sem reclamar, sem lutar, sem questionar, sem pensar. Isso é assombroso.
Não podemos deixar que continue a se perpetuar essa maneia de agir e pensar na sociedade, principalmente nas escolas, nas igrejas, nas casas de família. Nós temos que aprender a questionar, a não ter vergonha de ter dúvidas, a não ter receio de pensar e a ver beleza no mistério. As crianças não podem ter seus questionamentos ridicularizados e reprimidos na sala de aula ou pelos próprios pais – certamente isso é um dos piores males possíveis de se fazer para a humanidade, sem necessariamente ter o desejo direto de fazê-lo. Vamos duvidar, vamos criticar, vamos refletir, vamos pensar, vamos errar e acertar, vamos inventar, vamos descobrir, vamos mudar, vamos reinventar. Esse é o nosso dever aqui, é assim que andamos para a frente, é assim que o mundo gira. E chega de tapar buracos.

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